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domingo, 5 de fevereiro de 2017

Músicas Infantis e Cantigas de niná




Músicas Infantis e Cantigas de niná

Antigamente, bem antigamente mesmo, era muito normal e, até mesmo natural, educar os filhos com base na chibata ou a chinela, para os mais amenos e, para os mais amenos ainda, ninar a criança com músicas singelas, tal como:

Boi, boi, boi, boi da cara preta
Pega essa criança
Que tem medo de careta.

Ou seja, dorme peste, senão eu chamo o boi da cara preta pra te pegar. Mas isso não era nada comparado com as cantigas que ensinavam às crianças cantar. Imagine as pessoas que participavam das instituições de defesa dos animais, se existissem naquele tempo, ouvindo seus filhos cantar...

Atirei o pau no ga-t-ó-tó
Mas o ga-t-ó-tó, não morreu-reu-reu
Dona Chi-ca-ca, admirou-se-é-sé
Que o gato, que o gato não morreu.

Mas não podemos esquecer, que existia também o romantismo. E, todos sabemos que, muitas vezes, entre tapas e beijos é que sobrevivem as grandes paixões. Então, devíamos ensinar aos pequenos sobre esse assunto para que eles se acostumassem com essa idéia para quando ficassem adultos. Então ensinavam a cantar músicas tais como...

O Cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada.
O Cravo ficou ferido
E a Rosa despedaçada.
O Cravo ficou doente
A Rosa foi visitar.
O Cravo teve um desmaio,
A Rosa pôs-se a chorar.

E, segundo os humorista do Ceará, a palavra "booling", expressão que vem do inglês, aparentemente sem tradução, porque originou-se no Ceará a partir da expressão cearense bulir: Mãe, o Zé tá bulindo comigo. Então, tão antiga quanto tal expressão, também existiam músicas relacionadas como...

Eu vi o sapo na beira do rio
de camisa verde e sentindo frio
Não era sapo, nem perereca
Era o FULANO que estava de cueca.

Bom, como vemos a coisa era meio que politicamente incorreta mas, pelo menos, comparada aos olhos de hoje era bem inocente. Senão vejamos uma crônica do querido e saudoso Ariano Suassuna sobre o que nossos jovens de hoje ouvem e cantam.

Cítica de Ariano Suassuna sobre o Forró atual

"Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!" A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são "gaia", "cabaré", e bebida em geral, com ênfase na "cachaça". Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam).

Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade. O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhado uma música da Banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de "forró", e Ariano exclamou: "Eita que é pior do que eu pensava". Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou. Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém esta "desculhambação" não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de "forró", parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shorts começavam muito tarde.

Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado, Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo. Aqui o que se autodenomina "forró estilizado" continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem "rapariga na platéia", alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção???!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é "É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!", alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos. Realmente, alguma coisa está muito errada com esse nosso país, quando se levanta a mão pra se vangloriar que é rapariga, cachorra, raparigueiro, cachaceiro, que gosta de puteiro, aonde vamos parar? como podemos querer pessoas sérias, competentes? e não pensem que uma coisa não tem a ver com a outra não, porque tem e muito! E como as mulheres querem respeito como havia antigamente? Se hoje elas pedem "ferro", "quero logo 3", "lapada na rachada"? Os homens vão e atendem. Vamos divulgar, compartilhar essa mensagem adiante, as pessoas não podem continuar gritando e vibrando por serem putas e raparigueiros não. Reflitam bem sobre isso, eu sei que gosto é gosto... Mas, pensem direitinho se querem continuar gostando desse tipo de "forró" ou qualquer outro tipo de ruído, ou se querem ser alguém de respeito na vida!

Ariano Suassuna

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